Eu sabia que a queda poderia ser grande. A gente sempre acredita que as coisas vão ser diferentes daquela vez. Temos que acreditar. Senão, o que nos resta? Creio que isso se tornou parte constante da minha vida. Ser empurrada. Largarem da minha mão prometendo não me soltarem. Cair. Se machucar. Sofrer. Curar as feridas. Levantar. Tentar de novo. E de novo. E de novo. Me sinto o tempo todo cambaleando na beira de um penhasco. Em alguns momentos, confesso que resolvi aceitar o risco. Sabia que se pulasse, poderia ser fatal. Mas eu tive que pular. Tive que ver por mim mesma senão não seria eu. Só não sabia que a queda seria tão brusca. Tão feia. Não posso mentir pra mim mesma e dizer que não esperava e queria que a gente fosse mais alto. Desejei por tanto tempo sentir você perto de mim. Realizar todos os cenários que imaginávamos fazendo juntos. Mas ai é que está a grande pegadinha.
Palavras são só palavras quando não demonstradas. Então, o vento vem e as leva com facilidade como se não ao menos tivessem sido ditas. Talvez o que mais me amargure seja o fato de não ter ao menos a oportunidade de saber se o carinho que eu senti por ti era real. Queria ter tocado em você, queria saber como me sentiria ao olhar pra ti. Deixar tudo isso na imaginação é uma tortura constante. Segurei sua mão em um dos momentos mais difíceis da sua vida, e a segurei todas as vezes que você precisou. Mas quando eu te pedi pra segurar a minha, você me soltou. Me empurrou de um penhasco que eu nem sabia se teria forças pra sair. E eu sabia que naquele momento eu cairia mais uma vez. Dizer que tenho carinho por você agora é estranho. Dizer que queria que as coisas tivessem sido diferentes é estranho.
Estranho é saber que eu nem sei onde você está. Estranho é saber que não posso te alcançar. Lembrar que você repetiu que era diferente, que não faria isso. Que seria direto quando não quisesse mais. Eu tive que começar a desaprender a gostar de você. Deixar o carinho de lado. Por que cê fez isso? Por que cê me tratou dessa forma? Não fazia sentido fazer isso comigo. Não finge agora, que tudo isso não foi nada. Não finge agora que não lembra que te escutei chorando, que te fiz rir, que te dei toda a atenção que podia, que estive do seu lado. Eu dei o meu melhor pra você depois de tudo que eu passei. Depois de tudo que fizeram comigo. Pior que isso, eu me abri. Deixei que você visse minha vulnerabilidade, meus medos, minhas inseguranças. Me perdi em uma fantasia crendo que seria você que me entenderia. Que seria meu equilíbrio nas horas desesperadoras. Que seguraria minha mão porque cansei de segurar a minha própria sozinha. Eu pedi tanto e torci tanto para que você não fosse embora quando descobrisse o quão vulnerável eu sou. Mas, você me disse que não era como as outras pessoas e que nunca faria isso. Pois bem, cá estamos. Meses sem contato. Nem sei onde você está. Como está ou com quem está.
Você percebe que essa é atitude mais escrota que você poderia ter tido? Como se eu não tivesse sido ninguém importante na sua vida. Você sabe quem sou. Talvez soubesse até demais. Deixar alguém assim se fazendo perguntas, se culpando e se perguntando o que houve é uma das coisas mais cruéis que alguém pode fazer com outra pessoa. Ainda mais depois de tudo que confidenciamos um com o outro. Não quis admitir que você estava me magoando. Porque não queria ser magoada de novo. De novo, não. Por favor, não. E antes que você me pergunte, não eu não sinto raiva. Não sinto nada. Meu coração dói. É verdade. Estou magoada. E mágoa é mil vezes pior que raiva. Raiva passa, mas a mágoa ela te faz ver a pessoa com outros olhos. E nunca volta a ser como era antes. Você sabe o quanto tentei. Mas não quero correr atrás de você, apesar de meu coração ter me sugerido isso. Se tem uma coisa que aprendi nesse tempo é que isso só piora as coisas. Fiz tudo que podia. Dei tudo que restava de mim de bom que eu podia. Você costumava me dizer que eu sou incrível e especial. E não se faz isso com pessoas incríveis. Não assim. Isso só mostra e esfrega na minha cara aquilo que no fundo, talvez eu já soubesse. Não vai haver ninguém pra segurar. Sempre tive que segurar minha mão e sempre será assim. Ainda estou no fundo desse penhasco, me curando, tentando não pensar nos motivos que te levaram pra longe de mim.
Tentando não pensar na sua voz, na sua risada, no seu canto ou em tudo que me lembra você. Tentando não pensar como nossa química teria sido incrível pessoalmente. Isolo meus pensamentos e sigo. Porque as pessoas não ligam. Elas nunca se importaram. Estou escalando para chegar ao topo novamente. Só não sei se quando eu sair do fundo vou conseguir me recuperar novamente. Se da próxima vez que me empurrarem talvez eu não tenha forças pra me levantar novamente. Espero que um dia você lembre de mim. Espero que você tenha consciência do quão escroto você foi. E que graças a você, mais uma vez eu cai desse penhasco. E você não estava lá para me segurar como te segurei. É, mais uma vez.
Dedicado a D.M.M
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