Resenha de Livro: Trinta e Poucos

Livro: Trinta e Poucos
Autor: Antonio Prata
Ano: 2016
Páginas: 232
Editora: Companhia das Letras
Nota: 3 de 5

Recebi esse livro de parceria com a editora Companhia das Letras e confesso que fiquei bastante curiosa antes de ele chegar. Já tinha ouvido falar de alguns textos e escritos de Antonio Prata, e sua experiência com cronicas que são muito bem aceitas pelo público. Desde 2010 ele escreve uma coluna para o Jornal Folha de São Paulo então seu nome já é bem conhecido. Este, entretanto, não é o primeiro livro de crônicas do autor. Trinta e Poucos coleciona mais de 70 crônicas previamente publicadas no jornal que escreve passeando por reflexões reais e ficcionais que passeiam pelos mais variados assuntos diante da visão do escritor de 38 anos. 

A escrita do autor é muito madura e muito bem estruturada, me identifiquei com algumas coisas mas em outras nem tanto. Acredito que isso se deva a maturidade com o qual o mesmo desenvolve e leva seus textos abordando o assunto de uma forma mais voltada para o público adulto acima dos 30 que já tem uma maturidade e visão maior que a minha. É nítido em todas as suas palavras suas experiências de vida e pessoais que lhe trouxeram ensinamentos transformados em crônicas bem escritas que floreiam em assuntos pra lá de bacanas com um toque de informalidade ao mesmo tempo. O autor quer trazer uma identificação do leitor com o que ele pensa e consegue fazer isso abordando temas diferentes. Além de falar da idade mencionada no titulo do livro o autor também fala de vida profissional, pessoal e o equilíbrio dessas duas partes de sua vida. 

A verdade é que o autor tem um jeito bem peculiar de escrever, ora puxando para cômico em outros momentos falando bem sério de assuntos bem conhecidos mas que alcançam um público de diferentes faixas etárias. Só não consegui me identificar tanto com esse livro pela maturidade tão grande da escrita, certos assuntos não consegui me identificar mas não deixo de reconhecer a boa estruturação e desenvolvimento da escrita e dos textos do autor. Se você curte crônicas maduras com assuntos do cotidiano e uma boa escrita você vai se identificar com esse livro. Recomendo muito.





“Ano passado me deu uma agonia, uma saudade, peguei o álbum, só tinha aqueles retratos de casório, de viagem, do jet ski, sabe o que eu fiz? Fui pra Santos. Sei lá, quis voltar naquele bar onde a gente se conheceu.” “E aí?!” “Aí que o bar tinha fechado em 94, mas o proprietário, um senhor de idade, ainda morava no imóvel. Eu expliquei a minha história, ele falou: ‘Entra’. Foi lá num armário, trouxe uma caixa de sapatos e disse: ‘É tudo foto do bar, pode escolher uma, leva de recordação’.”

"(...) trinta e poucos. Ainda temos o vigor da juventude – o vigor necessário pra solar uma guitarra imaginária, pelo menos –, mas já deixamos pra trás o pudor da adolescência – pudor de contrariar as diretrizes do grupo, de não se encaixar na moldura da época. Até os vinte e nove você ainda tem esperanças de se tornar outra pessoa. Depois dos trinta, você simplesmente aceitar ser quem é, relaxa e goza. (...)"

"Dentre as inúmeras manifestações da hipocrisia, a que mais me irrita é o sustinho. Falo daquele falso assombro interrogativo que certas pessoas demonstram ao ouvir uma pergunta que, embora tenham entendido, não foi feita de maneira precisa. (...) Há pessoas que, de tanto usar o sustinho, acabam viciadas. Não conseguem ouvir um 'que horas são?' sem arregaçar os beiços e soltar seu mini-horrorizado 'Ãhm?!'. (...) Muito triste, meus amigos, o sustinho: não só por tratar-se de uma pequena agressão, um peteleco na orelha de nossa esperança na humanidade, mas porque usa as roupas e maquiagem do verdadeiro espanto, da surpresa genuína, que em grandes ou pequenas doses são sinal de saúde da alma e abertura do espírito – bem diferentes dessa falsa careta de incompreensão, com que infelizes nos brindam diante das mais simples perguntas, com o único intuito de dividir conosco um pouco de suas amarguras


Mais que qualquer escritor em atividade, Antonio Prata é cultor do gênero - consagrado por gigantes do porte de Rubem Braga, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino e Nelson Rodrigues - que fincou raízes por aqui- a crônica. Pode ser um par de meias, uma semente de mexerica, uma noite maldormida, a compra de um par de óculos, a tentativa de fazer exercícios abdominais. Quanto mais trivial o ponto de partida, mais cheio de sabor é o texto, mais surpreendente é a capacidade de extrair sentido e lirismo da aparente banalidade. Trinta e poucos traz crônicas selecionadas pelo próprio autor a partir de sua coluna na Folha de S.Paulo. Um mosaico com os melhores textos do principal cronista do Brasil.



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