Quando eu era pequena, costumava acreditar naquelas lendas. Loira do banheiro. Homem do Saco. Medo do escuro, Bicho papão. Monstro no armário, monstro debaixo da cama, até colocava uma cadeira na porta pra garantir né? Eu deitava na cama e olhava pra porta, com o abajur ligado achando que algo de noite poderia me pegar. Pura bobagem. Então em piscar de olhos, em algum momento que eu não estava prestando atenção eu cresci. Tirei a cadeira da porta, passei a não ligar para o armário e para as lendas que antes com certeza me assustavam.
Os dias começaram a ficar mais longos. Eu já não podia mais gritar e correr assustada me agarrando a perna dos meus pais e chorar como eu fazia antes. Eu tinha que lidar com as minhas próprias coisas. Tudo era mais chato. Eu passei a esquecer como a Barbie era bonita e como eu queria ser como ela. Parece muita vergonha agora admitir que eu gostava de Hannah Montana? Que chorei quando minha mãe contou que não existia Papai noel nem coelhinho da páscoa? Que era ela que me dava as os presentes? Lembro das noites da Natal de como quando saímos pra ceia na casa de alguém e eu ficava ansiosa pra chegar em casa logo e falava pra minha mãe que tínhamos que dormir logo senão o Papai Noel não ia chegar trazendo os presentes porque ia ver todo mundo acordado. Do meu empenho escrevendo a carta todo ano.
Eu acabei esquecendo de muitas lembranças nessa transição de criança para adolescência. Eu expulsei os bichos que eu achava que tinham por ai, e criei outros piores dentro de mim. Pior ainda, as pessoas que conheci alimentaram esses bichos e eles se tornaram aos poucos coisas que me deixaram escrava dos meus medos. Eu comecei a ter medo de mim mesma e das pessoas. Não conseguia mais confiar nas pessoas, e por um momento senti falta de ser criança, preferia ter medo dos bichos, porque percebi que o pior medo era o das pessoas. Eu me enchi de medos, dúvidas, escolhas erradas e certas, decisões e caminhos a percorrer. Pessoas me dizendo o que fazer e o que não fazer e eu não sabendo o que era pra fazer ou não. Pois é, eu cresci, e diferente do que eu achava quando era menor as pessoas não são assim tão bacanas. Nem tudo é tão fácil, amar não é mais do que do que se vê , é mais do que beijos, abraços e sorrisos na rua. Eu nunca mais acordei de manhã, me enrolei no meu cobertor e assisti desenho até cansar. Nunca mais sentei na cadeira da cozinha comi meu pão quentinho e tomei leite com chocolate feito pela minha mãe. Nunca mais pedi pra minha mãe arrumar meu cabelo porque já sou bem grandinha pra isso e tenho que me virar. Eu cresci, hoje, com TPM ,espinhas na cara, coração partido, e muitas histórias pra contar posso com certeza provar isso. Eu aprendi a segurar o choro, a sair por ai, com um lindo sorriso, dizendo que está tudo bem, quando na verdade tudo está demorando por dentro e por fora, na verdade virei uma verdadeira profissional nisso.
Quando penso no Peter Pan, até entendo porque ele vive na Terra do Nunca, e nunca quis crescer. Até seria bom nunca crescer, nunca ter esse tipo de responsabilidade, ser livre de todo esse tipo de pressão. Ah Peter, eu queria poder ter essa coragem que tens. De largar tudo e ser livre de uma forma que eu pudesse sair por ai voando, libertar minha mente de todas essas coisas fúteis e tão estressantes que acabam comigo em muitas vezes. Queria que me levasse pra essa terra do nunca, me enfie nessa tela de desenho, nessa página de livro colorida e me deixe na terra do nunca para que eu pare de crescer e estacione na idade que eu estou. Talvez assim as coisas comecem a funcionar.
Ou chame a sininho, e peça um pouquinho pó mágico dela e jogue um tiquinho em mim. Talvez isso funcione. Não é por mal. É que as vezes , queremos muito crescer, mas ser adulto cansa. É muita complicação, e no mundo adulto ninguém sabe o que quer. Ninguém sabe o que sentir. Ah Peter talvez eu esteja falando isso, porque esqueci o quanto é legal ser adulto, esqueci o caminho pra terra do nunca. Eu cresci, e queria voltar um pouquinho no tempo. O que faço Peter Pan? Posso ser a sua Wendy? Talvez eu consiga finalmente buscar o que eu quero e descobrir o que falta em mim. Vai ver que eu ainda sou uma menina. Uma menina que ainda não cresceu.
Inspirado no filme " Peter Pan" da Disney
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